Aquele abraço, Alto Vale

Aquele abraço, Alto Vale

Aquele abraço, Alto Vale

Ao olhar pela janela, nesta manhã de outono, vejo que fui presenteada com um verono, como se diz por aqui. Daria para comparar ao que no Brasil falamos ser um veranico de maio. Um  calor fora de época. E ainda com céu muito azul. Este foi o primeiro presente do dia, o segundo será logo em breve encontrar uma amiga do Alto Vale. Ela veio da Itália, acompanhada do marido, especialmente para me ver. Gosto de pensar que é por mim, mas sei que turistar por Portugal é um motivo difícil de concorrer. Nós deixamos a oportunidade da culinária típica portuguesa de lado para almoçar uma salada bem farta, acompanhada de vinho e bastante verde. É porque na Europa essa escolha acaba sendo deixada de lado muitas vezes. É sempre o pão, a massa, o bacalhau que chegam primeiro. Abraçar uma pessoa que a gente gosta, que é do lugar onde nascemos, estando tão longe e por tanto tempo distante, é sempre como abraçar a nossa própria casa. A história da gente. É como voltar ao conforto que temos no nosso lugar que nenhum outro canto do universo nos proporciona. Por isso o abraço foi demorado. Depois, quando a conversa é ainda sobre arte, é como se a vida inteira nos abraçasse. Fiquei muito feliz em saber as novidades da Nane. Ela me contou que vai lançar o seu segundo livro: ‘Janela para o Eu’, porque foi contemplada com o Prêmio Nodgi Pellizzetti de Incentivo à Cultura de Rio do Sul. A Nane está terminando de escrever e logo toda a região vai poder folhear tudo o que ela tem para nos dizer. E é bastante coisa. Peço para ela falar um pouquinho e me surpreendo ao perceber o quanto ela gosta de brincar com as palavras. A Nane começa me dizendo que colecionou mais de duzentas que terminam com o sufixo idade. Fico impressionada. É claro que peço para ela me falar algumas. Ela começou pela palavra idade e depois foi me dizendo sem precisar pensar muito: maturidade, maternidade, autenticidade, tranquilidade, fraternidade. Todas elas estão no livro acompanhadas desta reflexão que a Nane está fazendo sobre a vida. A inspiração nasceu depois de uma entrevista à uma repórter no Rio de Janeiro que a perguntou como ela se sentia ao completar 60 anos num país como o Brasil. Como ela encarava o fato de começar a envelhecer num país que valoriza tanto o novo. A Nane me disse que ficou chocada. Exatamente porque para ela os sessenta representam o seu melhor tempo. Foi aos sessenta que ela começou a se considera arquiteta da sua vida. Mas cada enta significa um tempo. Então ela começou a pensar nos tempos da vida, que alguns chamam de idade. O que cabe em todos os ‘enta’? Essa é a pergunta que ela me faz, eu acabo de conhecer o meu primeiro, prefiro não arriscar na resposta. Mas ela tem muitas respostas. Nós passamos o dia dando motivos aos olhos para enxergarem as belezas daqui. Como estamos no Porto, fomos ao Jardim do Morro, que fica do outro lado do Rio Douro. É este lugar que aparece na fotografia, tão bonito que parece ter sido desenhado, com a ribeira lá embaixo, parecendo mesmo cenário de filme. Aproveitamos a tarde para conhecer a Rota do Chá. Para fazer fotografia. Foi como se o Alto Vale inteiro estivesse conosco. Às vezes penso que foi bom para matar a saudade, noutras, imagino que assim ela ainda consegue ser maior. Neste livro, a Nane ainda vai coletar depoimento de sessenta mulheres que, segundo ela, fazem a diferença. São sessenta amigas que vão receber uma pergunta como eu recebi. Ela me entregou em mãos. Todas estas histórias ainda vão caber dentro deste livro. A Nane tem uma energia para a vida e para a arte que sempre me impressionaram. Não a conheço há muito tempo, mas ela está no meu livro “Que História é Essa?”. Sempre que conversamos, saio mais revigorada. Acreditando que é possível. Nós precisamos de gente assim por perto. Nós precisamos de gente assim na literatura. Na arte visual. Na mesa do chá. Na esquina de casa. Nós precisamos de gente assim que também caminha pelo mundo para continuar se inspirando. Para continuar nos servindo de inspiração. Ela me presenteou com esta manta quase dourada que também aparece na fotografia. Nela, tem uma pintura de céu. Eu vou usar neste outono e sei que estarei aquecida com este carinho. Antes de terminar, quero dizer ainda que toda história é importante. Por isso, toda história merece ser contada. Daqui, agora ao escrever, quero abraçar o Alto Vale. Quero abraçar ainda todos aqueles que sabem a importância que a arte pode ter nas nossas vidas. E daqui também, espero logo poder folhear toda esta experiência que a Nane vai nos presentear daqui a pouco. Vai ter muita verdade, porque ao nos despedirmos com um novo abraço, a Nane ainda aproveitou para me dizer que a escolha dela neste momento é ser feliz. O que me fez pensar automaticamente na palavra felicidade!

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